Ahhh…o U2.! Confesso que me passava um ar de banda “chapa branca” nos anos 2000, o que me afastou dela por muito tempo. Mal sabia que se tornaria muito querida pra mim. Ainda acho o estilo “salvador do mundo” do vocalista Bono Vox brega (ele já disse que abandonou o “Vox” mas o Brasil o mantem chamando assim), mas não posso deixar de admitir que me apaixonei pela paisagem sonora da guitarra de The Edge, o baixo marcado de Adam Clayton, a bateria de “soldado” de Larry Mullen Jr. e o carisma de Bono (admito, ele é foda).
Ao conhecer a discografia, passei por uma vibe Pós-punk do disco Boy (1980), uma mensagem Cristã de October (1982), um grito de protesto contra as guerras em War (1983), um pop atmosférico em The Unforgettable Fire (1984), um auge pop em Joshua Tree (disco que, em 1987 faz uma homenagem a musica norte americana) e uma ode ao Blues norte americano em Rattle and Hum (1989). Esse ultimo não foi bem recebido. Muitos acharam “pretencioso” demais, como se o U2 quisesse copiar os americanos.
A crítica, unida aos longos anos de trabalho sem descanso, deixou a banda esgotada. “Este é o fim de algo para o U2… temos que ir embora e sonhar com tudo de novo.” como o próprio Bono falou no último show da turnê de “Rattle”. A banda precisava mudar. E foi com esse sentimento, coincidentemente no mesmo período da queda do muro de Berlin, que banda fez nascer o seu “bebe problema”.

O ano era 1991.
As gravações começaram em Berlim, pouco tempo após a queda do muro, no Hansa Studios, próximo à estação de trem Zoo Station. A cidade ainda digeria a reunificação alemã, e a atmosfera fragmentada e caótica da capital influenciou diretamente o tom sombrio e eletrificado do disco. A banda trouxe de volta os produtores Brian Eno ( britânico que, justamente em Berlim, produziu os maravilhosos Low, Heroes e Lodger de David Bowie) e Daniel Lanois para manter a atmosfera de Joshua Tree. Mas faltava algo mais “anos 90” na jogada. Com isso, surge o produtor Flood (que viria a produzir discos incríveis com Depeche Mode e Nine Inch Nails),
Toda essa atmosfera sombria, provocativa, pop e rock n roll foi traduzida por ele. Música eletrônica e distorções vocais foram adicionadas, combinadas em um som industrial característico do produtor. Flood ajudou a transformar o som da banda em algo sujo, moderno e distorcido. Nascia “Achtung Baby”!

“Achtung Baby” significa literalmente “Bebê problema.”
“Achtung” (em alemão) = “Atenção!” ou “Cuidado!”
“Baby” (em inglês) = “Querida”, “bebê”
I’m ready for what’s next…
O álbum começa com um som de guitarra distorcido, desafinado e sons metalizados ao redor. “Zoo Station” é o nome dela, inspirada na estação de trem vizinha ao estúdio. A música se apresenta como um cartão postal da depressiva Berlim de 1991. Ela é como o som de uma banda se destruindo, e se renovando na faixa seguinte, “Even Better Than the Real Thing”. Totalmente trabalhada no EDM (Electronic dance music) e com um riff dançante de guitarra de Edge, ela mostra qual é a nova sonoridade da banda. O vídeoclipe é neon e jaqueta de couro preta. Nada mais “discolado”! E um inicio de letra praticamente pedindo a atenção do ouvinte:
“Give me one more chance, and you’ll be satisfied.
Give me two more chances, you won’t be denied.
Well my heart is where it’s always been
My head is somewhere in between
Give me one more chance, let me be your lover tonight.”
Tradução:
“Dê-me mais uma chance, e você vai ficar satisfeita.
Dê-me mais duas chances, você não vai se arrepender.
Meu coração está onde sempre esteve
Minha cabeça está em algum lugar no caminho
Dê-me mais uma chance, deixe-me ser seu amante esta noite.”
“One”, inspirada no término do casamento de The Edge, tocou muito em festas de casamentos (Bono se espantou quando ficou sabendo disso, “A MÚSICA ERA SOBRE TÉRMINOS!”). “Until the End of the World” é uma conversa entre Jesus e Judas, imaginada por Bono em uma manhã qualquer (provando que a cabeça dele funciona beeem diferente da nossa). “Who’s Gonna Ride Your Wild Horses” é épica (ponto!), “So Cruel” faz valer título como uma balada melancólica.
Mas nada vai me tirar da cabeça o solo de guitarra de The Edge na musica “The Fly”! Batida seca, guitarras sujas e os vocais distorcidos do Bono, que, nesse disco, abandonou a “seriedade” messiânica e surgiu com um novo alter ego, o irônico e egocêntrico “The Fly”, de óculos escuros e couro justo. O personagem era uma crítica aos “pop star” egocentricos.
“Mysterious Ways” segue com uma batida dançante, hipnótica e sensual. “Tryin’ to Throw Your Arms Around the World” é sobre voltar pra casa bêbado. Ultra Violet (Light My Way) uma súplica, e “Love is Blindness” é um épico, sombrio e solitário sobre o quanto o amor pode ser intenso…a ponto de causar cegueira!

O Álbum ganhou uma capa que é basicamente um mosaico de diversas fotografias da banda, lugar, animais, carros, luzes neon e Adam Claiton pelado. Traduz o som sombrio, mais multicolorido da banda naquele momento. A turne do album rendeu uma turne revolucionária (no real sentido da palavra), chamada Zoo TV. Com telões gigantes, transmissões ao vivo, críticas ao governo de Bono (ligando pra casa branca durando o show…WTF?), a turnê ironizava o bombardeio de informação da televisão (talvez profetizando a cultura digital?). Bono levou The Fly, o diabinho MacPhisto e o pastor picareta Mirror Ball Man.



O Achtung Baby é o U2 nos anos 90! Bem mais maliciosos, eles usaram o disco para lidar com términos, perdas, melancolia e incertezas, que por acaso tambem eram os sentimentos de Berlim na época. Isso foi traduzido em um album de muita personalidade, reinvenção e estilo. Algo além do convencional, Achtung Baby é redefinidor para o U2 e para a década de 90.
