Um homem superpoderoso, carismático, bondoso e humano. Essa última característica pode também ser lida de outra maneira: falho. É assim que o Superman, dirigido por James Gunn, nos foi apresentado. Em um mundo cada vez mais polarizado, pesado e com pouca fé, é incrível imaginar como um personagem construído com os adjetivos acima ainda possa se mostrar tão atual.
Nem todo mundo está apreciando essa nova versão do herói — que de “nova” não tem nada, já que muitos dos elementos vistos no filme foram criados na chamada Era de Prata dos quadrinhos. Seja por comentários mal-intencionados (talvez gerados por “macaquinhos amestrados”, como Gunn nos mostrou) ou por preferência por uma visão mais séria, o longa não é a unanimidade positiva que se esperava.

Mas voltemos antes à Era de Prata e suas aventuras extravagantes. Talvez um auge criativo — para o bem e para o mal —, o fato é que esse foi um período em que a fantasia e o improvável aconteciam, para não dizer também o absurdo. Uma fase marcada por uma galhofa datada e impensável para os dias atuais… não fosse pelo roteirista escocês Grant Morrison, que nos trouxe, em 2005, a famosa minissérie Grandes Astros: Superman, em que o Homem de Aço estava prestes a morrer e deixava um legado para o mundo. Algo mais Superman do que isso, impossível. Morrison utilizou os conceitos da Era de Prata com uma abordagem modernizada, sem perder os aspectos fantásticos e, o mais importante, sem ter medo do ridículo.
Nessa história, o autor não tem medo de abraçar a essência escoteira do herói. E por que teria vergonha disso? Clark Kent, o Superman, é o humano perfeito (mesmo vindo de Krypton), com todos os valores que almejamos: Liberdade, Justiça e o ideal americ… ou melhor, HUMANIDADE. E é exatamente essa essência que James Gunn nos traz em 2025. Ele abraça a fantasia, apresenta um herói que salva animais em perigo, que interfere em um conflito internacional “apenas” para salvar vidas — mostrando que o principal propósito para estarmos aqui, nesta Terra, é justamente esse: ajudar e servir uns aos outros. Por que isso seria ridículo?
“Mas ele apanha muito”, alguns vão dizer… Ok, voltemos a 1986, quando John Byrne (quadrinista canadense) reinventou a origem do personagem e o reimaginou como alguém muito poderoso, mas nem tanto.

É muito comum vermos o “Azulão” fragilizado emocionalmente, em crise entre a personalidade de Superman e a de Clark Kent, questionando se dará conta de uma vida dupla. Assim como também é comum, nessa época, vermos o herói sendo subjugado por seus adversários e tendo bastante dificuldade em derrotá-los. Além, é claro, do fato de ter seus pais terrenos muito mais presentes, ajudando na confecção do uniforme e ensinando a ele valores que serão sua força motivadora. Ora, e não é isso exatamente o que James Gunn faz novamente?
Esse lado cartunesco e inocente que o protagonista carrega pode nos mostrar que ainda há tempo para fazer o certo. Ainda há tempo para sonhar com mudanças positivas no mundo — diferente da encarnação de Henry Cavill, em que víamos o lado mais sombrio, pessimista e egoísta do herói. Superman de 2025 está longe de ser um filme perfeito, mas é o filme perfeito do Superman que todos nós precisávamos.