Dirigido por Fernando Meirelles e codirigido por Kátia Lund, Cidade de Deus é uma das obras-primas do cinema brasileiro e um marco do cinema mundial. Baseado no romance homônimo de Paulo Lins, o filme retrata, com um realismo brutal e estilizado, o crescimento do crime organizado na favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, entre as décadas de 1960 e 1980. Lançado em 2002, o longa conquistou aclamação internacional e foi indicado a quatro Oscars em 2004, incluindo Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado.
A narrativa é conduzida por Buscapé (Alexandre Rodrigues), um jovem negro e pobre que sonha em se tornar fotógrafo. Ao mesmo tempo em que tenta sobreviver à dura realidade da favela, ele observa — e nos apresenta — o avanço do tráfico de drogas, das guerras entre gangues e do aumento da violência. Seu olhar serve de fio condutor para apresentar personagens icônicos como Zé Pequeno (Leandro Firmino), um dos vilões mais memoráveis do cinema brasileiro, cuja trajetória de sangue e poder se entrelaça com o destino da comunidade.

A estrutura narrativa não-linear, marcada por idas e vindas no tempo, é um dos grandes trunfos do filme. Ela permite que o espectador compreenda as motivações dos personagens e a complexidade do ambiente em que vivem. A montagem ágil e a câmera quase documental criam uma sensação de urgência e proximidade com os acontecimentos, mergulhando o público no coração da favela.
Outro ponto de destaque é o elenco majoritariamente formado por atores iniciantes ou moradores de comunidades, o que confere autenticidade e força à atuação. Leandro Firmino, Jonathan Haagensen, Seu Jorge, Douglas Silva e outros nomes que viriam a se destacar no cenário cultural brasileiro entregam performances marcantes e intensas.

Apesar de retratar uma realidade brutal, Cidade de Deus não se limita à violência. O filme também é sobre juventude, sonhos frustrados, escolhas e desigualdade social. Ele escancara um Brasil esquecido, onde o Estado está ausente e onde a violência não é uma exceção, mas parte da rotina.
Visualmente impactante, socialmente relevante e narrativamente envolvente, Cidade de Deus é um retrato cru de uma realidade que persiste. Mais do que um filme sobre crime, é uma denúncia poderosa da exclusão social e da forma como o ambiente pode moldar destinos. Vinte anos após seu lançamento, continua atual, provocativo e indispensável.