50 anos de “Tubarão” – o blockbuster que redefiniu o cinema

Há 50 anos, dentes afiados vindo das profundezas do oceano mudaram o cinema para sempre. Em 1975, Tubarão (Jaws), dirigido por um então jovem Steven Spielberg, estreava nos cinemas e criava não apenas um marco do terror e do suspense, mas também inaugurava o conceito moderno de blockbuster. Meio século depois, o filme permanece assustador, fascinante e, acima de tudo, um triunfo da narrativa cinematográfica.

Baseado no livro de Peter Benchley, Tubarão acompanha a luta do chefe de polícia Martin Brody (Roy Scheider), o oceanógrafo Matt Hooper (Richard Dreyfuss) e o caçador de tubarões Quint (Robert Shaw) contra uma ameaça invisível e aterrorizante: um grande tubarão-branco que começa a devorar banhistas na pequena ilha de Amity. É uma trama simples, mas conduzida com maestria, onde o verdadeiro monstro não é apenas o animal, mas o medo — o pavor coletivo que toma conta da comunidade e a recusa das autoridades em enfrentá-lo.

O filme é, antes de tudo, uma aula de construção de tensão. A famosa trilha sonora de John Williams, com suas duas notas repetidas que crescem em intensidade, é hoje sinônimo de perigo iminente. Curiosamente, a ausência do tubarão em grande parte do filme (devido a problemas mecânicos com o animatrônico) forçou Spielberg a sugerir o terror com sombras, ângulos de câmera e sons, criando um suspense muito mais eficaz do que mostrar diretamente o monstro. Essa limitação técnica se transformou em virtude estética.

Mas Tubarão também é um estudo sobre a fragilidade humana diante da natureza e da ganância. O prefeito que insiste em manter as praias abertas apesar do risco, com medo de perder dinheiro durante o verão, ecoa decisões políticas reais — algo que se manteve tragicamente atual ao longo das décadas. O trio central é outro trunfo: Brody é o homem comum colocado em situação extrema; Hooper é o conhecimento e a ciência; e Quint é o instinto selvagem e vingativo. O embate entre eles reflete diferentes respostas humanas ao medo.

Tecnicamente, o filme também é um prodígio. A montagem de Verna Fields, que lhe rendeu um Oscar, é precisa e essencial para o ritmo crescente da narrativa. Spielberg, com apenas 27 anos, demonstra controle absoluto da linguagem cinematográfica, equilibrando cenas intimistas com sequências espetaculares no mar. E, claro, o tubarão Bruce (como foi apelidado pela equipe) se tornou um ícone, mesmo com sua presença física limitada.

Tubarão arrecadou mais de 470 milhões de dólares em bilheteria mundial, um feito impressionante para a época, tornando-se o filme de maior sucesso da história até Star Wars chegar dois anos depois. Mais do que isso, criou a base do lançamento de verão como conhecemos hoje: grandes campanhas publicitárias, estreias em larga escala e o foco na experiência coletiva nas salas de cinema.

Cinquenta anos depois, Tubarão continua sendo exibido, discutido e reverenciado. Não é apenas um grande filme de terror — é um filme essencial para se entender o cinema moderno. Ele nos lembra que o medo é uma emoção poderosa, e que, quando bem explorado, pode unir plateias em um grito coletivo, mesmo que silencioso, cada vez que as duas notas de Williams começam a tocar.

Como diz a famosa frase de Quint: “You’re gonna need a bigger boat.” E o cinema, desde então, nunca mais foi o mesmo.

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